Tuesday 22 November 2016

LANDSCAPE





Sempre regresso da eterna partida, do há de vir. Permanência da permuta. Sobrevivem no tempo as fugas, portas da volta, abertas a passagens. A rua tão estreita, carros não passavam, talvez motocicletas ou aviões, íamos em bikes por entre nadas encontrar o eterno retorno efêmero, alquímico instante de luz e som, de vida em multiformes cores, místicas sensações conduzem a percepção ao instantâneo ponto-delírio. Pizzas voam pelo salão, garrafas de vinho nunca abertas adornam adegas imaginárias no fundo de casa. Sobram sambas nunca feitos, mais guarda(so)mos líricas memórias ancestrais. Lembramos que o presente não se doma e que o futuro é refazer constante.

O amanhã hoje buscaremos. Seremos sempre e cada vez mais outras nozes de nós, e por aí atando os dias uns aos outros, percorremos corredores de enigmas e sonhos atrás da “bruta flor” lúcida e lúdica. Lançados ao violento jogo das escolhas e suas consequências, desejo de conhecer o profundo da magia de África e América, vamos dar a volta nos dogmas, recriar a história, repetir antigos ensinamentos, chegar a locais até então desconhecidos e novamente arcar, arquitetar saídas, planos estratégicos e dramáticos projetos, vamos a destinos indeterminados, por trilhas antes impensadas e infinitos desafios, encaramos a surpresa suave de sentir além de si; há longa estrada em breve tempo. A estadia aqui  nos comporta em seu poder de presente, de uma perversa e preciosa preservação, faz guardar o riso, o risco leve de navegar o rio de minha infância até o mar mais poético. E em tuas cores a vida viu-se mais quente e ilumina nos traços que transcendem as dores que não podemos suportar e a luz que davas e extraías das formas dissolúveis do cotidiano, preenchia de movimento e graça as horas de outubro. Agosto finda e nos traz o mar – Iemanjá – a maré, oxalá se mantenha, manto indissolúvel de fé e mansidão, vestido dos deuses.

Da dinâmica vida das ondas e seus corpos de espuma e sal vislumbramos a vastidão das águas tropicais e sua força ancestral imorrível.  Há tanto ritmo nos ventos que conversam conosco e quando vinham nos visitar o olor de maré na varanda ou os pássaros no quintal com suas melodias e as ruas que chegam até nós com a harmonia dos batuques, enquanto nós amávamos sem pudor e medo no muro. Multidões de mesas foram postas para os mais extraordinários cafés do continente. Precisava de tempo para escrever a cura. Guia-me a lua, as estrelas de teus dentes povoam o céu de minha boca. As lentes do óculos não são suficientes para nos dar a visão. Ríamos roteiro acima e sustentávamos a esperança no percurso-destino.

“Mal deixamos de nos encontrar, voltamos a nos ver”. Árvores dos natais perderam as luzes, a neve impossível depois dissipou-se. Criamos páginas aos montes, construímos monumentos de prazer e liberdade, amor, fomos junto ao profundo de momentos e liquidez da imagem, fuga-cidade de cinema, eterno mito do som. Teu dom, mulher de cores, reflete a mística, a nuvem mágica no deserto, a plana ideia que tens admira-nos, atravessa o ambiente e mil tons e timbres de tua calma absurda feita de horas saudáveis em que tu saúdas o “bem” recebido. Meu bem, em tudo isso há um pouco a mais de Bahia (África/Brasil?). A qual tu, mensageira do mar, seria capaz de nos fazer ver.

O exercício cotidiano da história que limita a prática do novo, rompeu-se. Até nós, foi trazido o mistério e o aceitamos: “em seu poder de palavra e seu poder de silêncio”. Poder de mistério que nos cala diante de tudo. Paisagens e percepções. Resgate da hora em que a dúvida passará, medo e incerteza passarão, cessarão de bater no peito. Um dia, ainda voltaremos a saber o que esquecemos? Já que a vida é uma paisagem passageira e nós breves brilhos na esteira dos anos.

CHÃO PELA FRENTE



não espere,

mas o tempo
nos encontra
 

por aí - pelo meio
desse mundo -
 

como ? quando?
quem sabe ?


por enquanto - que
consigamos o presente.

eu nem tenho tanto
a dizer - tenho certeza
que já falei o suficiente
esse ano.

agora é descansar
(como quem
deita na rede)

e sentir gratidão
e sentir amor
é o que me basta
à mente:

o cuidado é a cuia da cura...