Tuesday 27 February 2018

Ponto

Descanso do descaso,
acordo e acolho um rosto
com lágrimas nos olhos,
me encosto e sinto o gosto
da terra num broto – outro
gesto da diáspora: hora futura
do retorno. por dentro do corpo
o ser desmaia, não morre, nem
desmonta a madrugada na manhã
quando o sol raia, desvia o vértice,
o pico converte-se do cume ao centro
da óptica, a visão inunda-se de vozes
que desdobram a insônia contra a
mortandade hasteada ante o que insiste
em se anunciar sob véu de toda sorte: é
tanto amor e totem. 

Friday 23 February 2018

RETRATO

Meu coração encapsulado em palavras
Portas semiabertas cerram-se aos olhos
Cestos compreendem pinturas, papéis, gestos
Arupembas guardam ganzás, pandeiros, maracas

Esteiras encostadas na parede, espelhos pendurados
Nas alturas percussões futuras soam ecos absurdos
Preto Velho do canto da sala a tudo espia e espelha
Telas transfiguram-se em temas, textos, toques

Objetos de sonhos, versos movem-se assim
Sambando dia-a-dia envoltos em chamas
Queimam a face obumbrada da Terra e
Esquentam as costas dos montes solares

Plantações de planetas frutificam colheitas
Caçadores, guerreiros e feiticeiras povoam o tempo
De ações, armas e magias - patuás para as guerras -
Como sangue espuma batendo contra as portas do infinito.

Fev 2018