corpos com fome,
phones sem fone, nem
crédito,
corpos cansados, mentes
com sono,
militantes tão sonhos
pelo afã embriagados,
a cana no sangue fala
alto,
a carne no bucho tapa
buraco,
no céu da boca a coroa
se cala,
a carne, então, a carne,
cheira a pele
chamuscada,
fio de cabelo, cordão de
ouro embaraçado,
corpos carbonizados nos
morros,
corpos alvejados nos
carros,
vidros estilhaçados por
balas,
mortes mecânicas,
incontáveis
corpos se avolumam uns
sobre
os outros empilhados
como pneus,
esse é o nosso
holocausto, meu-e-seu
essa a nossa guerra, Rio
nossa Síria,
e ninguém vê, ninguém
ouve, por que?
A morte é nosso rastro.
Em mim teu corpo
sangra, terra, eu-teu-indígena,
resisto ao estrangeiro,
ao forasteiro que
devasta esta terra arrasada há 500
anos e não se cansa a
máquina de moer gente dentro
de empregos trabalhos
fábricas universidades e
há tanto universo mundo
a fora, casas asas pratas
os xapiris me contaram, que
aquela fumaça mata,
o azogue me mostrou as
cores da mata,
a ayahuasca me deu os
cantos
e as letras invisíveis
dos ícaros,
o rapé dos tukanos
saculejaram a alma.
os poemas são papéis de
DMT,
minhas veias abertas de
uma
África indígena dentro
de mim.