Tuesday 14 February 2017

Caboclo Taperoa

Caboclo Taperoa: 
"Que a paz de Oxalá renove tuas esperanças de que, depois de erros e acertos; tristezas e alegrias; derrotas e vitórias; chegará ao teu objetivo mais nobre; aos pés de Zambi maior!"
MUCUIÚ N'ZAMBI!


Eu tenho Zumbi dos Palmares, 
tenho Besouro, 
o Chefe dos Tupis. Sou tupinambá. 
Tenho os Erês, Caboclo-Boiadeiro, 
Mãos-de-cura, Morubixabas, Cocares, 
Arco-íris, Zarabatanas, Curare, Flechas & Altares. 
Tenho a velocidade da luz, o escuro da mata escura,...
Eu tenho Zumbi dos Palmares, tenho Besouro, 
o Chefe dos Tupis. Sou tupinambá. 
Tenho os Erês, Caboclo-Boiadeiro, 
Mãos-de-cura, Morubixabas, Cocares, 
Arco-íris, Zarabatanas, Curare, Flechas & Altares. 

Tenho a velocidade da luz, o escuro da mata escura, 
o breu, o silêncio, a espera. O tempo sempre a meu favor.
Todos os pajés em minha companhia. O menino Deus brinca 
& dorme nos meus sonhos, o Poeta me contou… Não misturo,
não me dobro. A Rainha do Mar anda de mãos dadas comigo. 
Me ensina o baile das ondas & canta, canta, canta para mim. 
E é do Ouro de Oxum que é feita a armadura que guarda o meu corpo, 
garante meu sangue, minha garganta. O veneno do mal não acha passagem. 
Me sumo no vento. Cavalgo no Raio de Iansã, giro o mundo, viro, reviro. 
Vôo entre as estrelas, vou além. Me recolho no esplendor das nebulosas, 
descanso nos vales, montanhas, durmo na forja de Ogum Guerreiro. 
Rezo com as três Marias no céu. Mergulho no calor da larva dos vulcões:
corpo vivo de Xangô. Não ando no breu nem ando na treva. 
Medo não me alcança. No deserto, me acho. Faço cobra morder o rabo, 
faço escorpião virar pirilampo. Fulminar aquele que é injusto, aquele que maltrata,
aquele que transforma a vida nas mazelas a que assistimos no dia-a-dia: 
Tu, pessoa nefasta! - Eu não provo do seu fel, eu não piso o seu chão, 
e para onde você for, pessoa nefasta, não leva meu nome, não. 
Não mexe comigo, que eu não ando só…
Saravá.

ASA

per
ti tu
de
de
ar
ar
mado
no gra
mado
a
nado
des
calço,
dis
farço,
o
passo
em
falso,
a
falsa
alça
da
asa
do br
aço.

Primeiro Passo


era
tomar Brasília.
Inter
ditar
o aeroporto,
invia
bilizar
o congresso
e aí começar
tomando
de volta
tudo que
é terra é mato
é pedra é água
tudo de volta
para beiradeiros
ribeirinhos
quilombolas
índios
populações atingidas
por barragens
[...
Dissolver
o
Estado
n' ácida saliva de Gaia

Ontem


Ontem,
senti seu
coração
batendo
na ponta
da minha
língua.

Ode Odoyá

Que a espuma 
de teus cabelos
envolva a tarde 
do dia que amanhece
em tuas ondas, 
cardumes 
e pedras.
Cama de flores, 
teus braços,
que os barcos acolhem
no fundo das águas
e os rios te recolhem
a descansar o ano inteiro
depois de fevereiro

dos furdunços do Mar.

Guias.

2 de fevereiro de 2013.

Enquanto você dormia

(...), 

(...) (...), 
 
(...) (...) (...) 

ao longe,

rente a linha, 


além da ilha 

sobre o mar,

casas cargueiros

carruagens chegando

acendem o fogo

na mata:vento forte

flor nasce, surpresa

o cheiro de chuva,

que dançava comigo

na hora da morte,

enquanto você dormia.

Ô Iá


respiro e penso
que a hora pede
foco e coração 
aperta, ora bate,
ora concentra
alinhamentos equilíbrios e retornos
de fluxos em devir-
começo, devir-
transformação,
devir-devir...
limiar de vértices
de vetores
que desenham
coordenadas
nos mapas
do cosmo
(caosmo)
esquizorealidade,
perimetral,
logo mais
pode ser
muito tarde.
Irôko ensina
às formas
da paciência
que o tempo
condensa e
nos aguarda,
no sonho,
na sede,
na sorte
que rega
as horas
e na surpresa
que é o mistério
do instante que
quer abstrair
o absurdo
enquanto os pés
caminham lentos
pela areia dos dias
e amanhecer
é uma lição divina,
na qual amar
faz morar,
em nós,
a manhã...

ALMA

Tua aura
é rua astral
da louca lua 
que ria loba
na gira da bola
azul e branca
do colar de Yèyé
omo ejá, ora,
e de uma hora
pra outra trans-
forma a forma
de tudo, toda
luz real que
vem do mar,
de além, que
vem da fonte
verde de força
e fé-cega "faca
só lâmina", lá na
lama de Nanã,
de onde vem
Obaluaiyê, Obá.
Sopro alma ao
vento, lanço o
corpo ao tempo,
tento ao menos
mar, tanto mar
que a linha que
contorna o luar,
o astro circunfere
a fera azulada no
azuleijo colonial da
esquina do Sto.
Antônio Além
do Carmo, como
o cais por toda
Barra, salvador
de náufragos...

C.C.S.Alvarenga,
Janeiro, 2017
Às gentes
que morrem
nesses encontros
de pernas
que escorrem 
nestes dias em
que sóis cegos
escorregam pelas
tardes quentes
onde as gentes
úmidas suam
e sangram rios
que singram
vales no cosmo
como as estrelas
(dos dentes?) nos
céus das bocas
em avermelhados
crepúsculos... e
medram e mordem
mundos e se mudam
de lugar as coisas
silenciosas, só sentindo
o veneno a correr-lhes
nas veias, enquanto
irascíveis se esmilinguém
em outros e outras toadas
e gritos de iluminação e horror.
C.C.S. Alvarenga,
janeiro, 2017.