Sempre regresso da eterna partida, do há de vir. Permanência
da permuta. Sobrevivem no tempo as fugas, portas da volta, abertas a passagens.
A rua tão estreita, carros não passavam, talvez motocicletas ou aviões, íamos
em bikes por entre nadas encontrar o
eterno retorno efêmero, alquímico instante de luz e som, de vida em multiformes
cores, místicas sensações conduzem a percepção ao instantâneo ponto-delírio.
Pizzas voam pelo salão, garrafas de vinho nunca abertas adornam adegas
imaginárias no fundo de casa. Sobram sambas nunca feitos, mais
guarda(so)mos líricas memórias ancestrais. Lembramos que o presente não se doma
e que o futuro é refazer constante.
O amanhã hoje buscaremos. Seremos sempre e cada vez mais
outras nozes de nós, e por aí atando os dias uns aos outros, percorremos
corredores de enigmas e sonhos atrás da “bruta flor” lúcida e lúdica. Lançados
ao violento jogo das escolhas e suas consequências, desejo de conhecer o profundo da
magia de África e América, vamos dar a volta nos dogmas, recriar a história,
repetir antigos ensinamentos, chegar a locais até então desconhecidos e
novamente arcar, arquitetar saídas, planos estratégicos e dramáticos projetos,
vamos a destinos indeterminados, por trilhas antes impensadas e infinitos
desafios, encaramos a surpresa suave de sentir além de si; há longa estrada em
breve tempo. A estadia aqui nos comporta em seu poder de presente, de uma perversa e
preciosa preservação, faz guardar o riso, o risco leve de navegar o rio de
minha infância até o mar mais poético. E em tuas cores a vida viu-se mais
quente e ilumina nos traços que transcendem as dores que não podemos suportar e
a luz que davas e extraías das formas dissolúveis do cotidiano, preenchia de
movimento e graça as horas de outubro. Agosto finda e nos traz o mar – Iemanjá
– a maré, oxalá se mantenha, manto indissolúvel de fé e mansidão, vestido dos deuses.
Da dinâmica vida das ondas e seus corpos de espuma e sal
vislumbramos a vastidão das águas tropicais e sua força ancestral
imorrível. Há tanto ritmo nos ventos que
conversam conosco e quando vinham nos visitar o olor de maré na varanda ou os
pássaros no quintal com suas melodias e as ruas que chegam até nós com a harmonia
dos batuques, enquanto nós amávamos sem pudor e medo no muro. Multidões de
mesas foram postas para os mais extraordinários cafés do continente. Precisava
de tempo para escrever a cura. Guia-me a lua, as estrelas de teus dentes povoam
o céu de minha boca. As lentes do óculos não são suficientes para nos dar a visão. Ríamos
roteiro acima e sustentávamos a esperança no percurso-destino.
“Mal deixamos de nos encontrar, voltamos a nos ver”. Árvores
dos natais perderam as luzes, a neve impossível depois dissipou-se. Criamos
páginas aos montes, construímos monumentos de prazer e liberdade, amor, fomos
junto ao profundo de momentos e liquidez da imagem, fuga-cidade de cinema,
eterno mito do som. Teu dom, mulher de cores, reflete a mística, a nuvem mágica
no deserto, a plana ideia que tens admira-nos, atravessa o ambiente e mil tons
e timbres de tua calma absurda feita de horas saudáveis em que tu saúdas o
“bem” recebido. Meu bem, em tudo isso há um pouco a mais de Bahia
(África/Brasil?). A qual tu, mensageira do mar, seria capaz de nos fazer ver.
O exercício cotidiano da história que limita a prática do
novo, rompeu-se. Até nós, foi trazido o mistério e o aceitamos: “em seu poder
de palavra e seu poder de silêncio”. Poder de mistério que nos cala diante de
tudo. Paisagens e percepções. Resgate da hora em que a dúvida passará, medo e
incerteza passarão, cessarão de bater no peito. Um dia, ainda voltaremos a
saber o que esquecemos? Já que a vida é uma paisagem passageira e nós breves
brilhos na esteira dos anos.
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