Wednesday 4 April 2018

INDÍCIOS DE UM POEMA


quando se vai à fonte,/ se chega às raízes...

" a roda grande
passa por dentro
da roda pequena"

"a memória
dos ancestrais
me diz o que
eu preciso fazer"
Há um hino
em todo início
em todo tempo
     [mítico
um totem
um princípio
místico,
e
ainda assim
há um hino
           [hipnótico, conciso,
inscrito no silêncio
vagaroso dos ossos

não podemos cantá-lo
     [nem ouvi-lo
é cedo demais ainda,
ainda não despertamos
para o tempo de morte
e abandono que abocanha,
mas não a todos, há de chegar
a hora em que escafandristas
[escarafunchando escombros marinhos
em paisagens soterradas pelo horror do passado
desossam o futuro embrulhado em papel de presente amarrotado
e
toda carne exposta em sangue é matéria macabra
para o espetáculo nas ruas, nos jornais, impossíveis

toda fome alcança as casas sobe as mesas e enche os pratos
e se derrama pelas estradas entre latifúndios e os mercados
e aquelas paradas nos postos de gasolina.

toda veste, pele, calçado é coisa dada, imposta ou roubada
no calor das necessidades mais ordinárias,

e o amor é raro artigo no mundo depois de ele ter se acabado. 

E enfim em mim
como no início
há um índio aqui
no momento em
que adversários
se viram contra nós
e as árvores são nossa última alternativa
:
ou uma curva, uma dobra, uma tangente.
– O CABOCLO É UM HACKER
: buraco negro, matéria escura, massa cinzenta.

o ancestral
não se impõe
nem obriga,
ele é e está
ao ser-sendo.

minha mãe
já foi ( é )
parteira /
meu pai
um curandeiro

eu

filho da minha vó
sou só eu ( ? )

eu

segurei um pombo
o silêncio no pomo,

oferendas aceitas,
riscos corridos,

apostas feitas
ao fogo
que forja
a forma-tempo
da terra fértil
em terra firme.

hoje,

sangrei um pouco
porque o rio,
aquática matéria,
serpente singra sangue
em meu peito e ardo
e fervo as pedras
no fundo do leito.

Mar-Abril, 2018

Olinda-Tracunhaém-Olinda.


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