quando se vai à fonte,/ se chega às raízes...
" a roda grande
passa por dentro
da roda pequena"
"a memória
dos ancestrais
me diz o que
eu preciso fazer"
Há um hino
em todo início
em todo tempo
[mítico
um totem
um princípio
místico,
e
ainda assim
há um hino
[hipnótico, conciso,
inscrito no silêncio
vagaroso dos ossos
não podemos cantá-lo
[nem ouvi-lo
é cedo demais ainda,
ainda não despertamos
para o tempo de morte
e abandono que abocanha,
mas não a todos, há de chegar
a hora em que escafandristas
[escarafunchando escombros marinhos
em paisagens soterradas pelo horror do passado
desossam o futuro embrulhado em papel de presente amarrotado
e
toda carne exposta em sangue é matéria macabra
para o espetáculo nas ruas, nos jornais,
impossíveis
toda fome alcança as casas sobe as mesas e enche
os pratos
e se derrama pelas estradas entre latifúndios e os
mercados
e aquelas paradas nos postos de gasolina.
toda veste, pele, calçado é coisa dada, imposta ou
roubada
no calor das necessidades mais ordinárias,
e o amor é raro artigo no mundo depois de ele ter
se acabado.
E enfim em mim
como no início
há um índio aqui
no momento em
que adversários
se viram contra nós
e as árvores são nossa última alternativa
:
ou uma curva, uma dobra, uma tangente.
– O CABOCLO É UM HACKER
: buraco negro, matéria escura, massa cinzenta.
o ancestral
não se impõe
nem obriga,
ele é e está
ao ser-sendo.
minha mãe
já foi ( é )
parteira /
meu pai
um curandeiro
eu
filho da minha vó
sou só eu ( ? )
eu
segurei um pombo
o silêncio no pomo,
oferendas aceitas,
riscos corridos,
apostas feitas
ao fogo
que forja
a forma-tempo
da terra fértil
em terra firme.
hoje,
sangrei um pouco
porque o rio,
aquática matéria,
serpente singra sangue
em meu peito e ardo
e fervo as pedras
no fundo do leito.
Mar-Abril, 2018
Olinda-Tracunhaém-Olinda.
No comments:
Post a Comment