Sunday 7 January 2018

SÓIS DO VIRADOURO

cuido atento

ao curto e oculto
tempo que temos.
a cuia de sol, cerveja
& abô que bebo
torna o dia mais azul.

Silencio no coração da tormenta
e escuto no coração da tormenta
um silêncio oportuno, outonal,
qual o baque da queda,
após o murro,
ou o salto do gato,
sobre o muro,
a isca da caça
pelo urso,
o veludo da pele,
em flor,
ou o movimento do músculo
num susto,
de quem é perseguido
por um cão,
em surto,
(e se livra).

Lá fora
a rua é uma sinuca arisca
a porta do quarto é uma bússola
no mar no meio de maio
entre nós e o oceano
entre a casa e a piscina,
a cama e a privada
a porta do quarto
é uma cortina
e esconde um mistério
que nos aguarda,
do outro lado do meu peito

que se inflama
se banha
se sangra e
se estraçalha se chove
um enxame de facas e balas
uma turba de falas ocas e
uma multidão de foices cegas
que despencam do teto da sala
e caem sobre mim

todos aqueles, estes
nossos corpos negros
mortos pela polícia militar
nosso sangue pinga sobre sonhos
nosso sangue, nossos sonhos

embebedando as horas
desviando a fome
a caminho da Ponte,
atrás da Estação
cruzam-se as linhas
e atravessam-se os dias
a sós

e vós
que sois como sóis
vens como viramundos.

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