ABERTURA
casas
arrastadas
ao cais – às rochas
das nossas partidas
na paisagem do porto,
o pajé
abre
o vento-a-flor
nasce.
e o cheiro
dança dentro
da
surpresa.
***
ANIMÍTICO
Omito/ o dado, o fato/ e o mato.
***
DEUS, O MANO
O mano-eu/é um, é
uma/transa-transe/do desumano.
***
O CHÁ DO XAMÃ
N’asa da xícara:
a cura : – cobre
com pano úmido
e põe no escuro.
***
RANDOMIAMERÍNDIA
Na terra dos índios
ainda há gentes
(contra) indígenas.
Onde? Aqui
mesmo: onde
a gente a paz
não vinga.
(só a poesia
pode, amor.)
Nada no país
toma forma
de nação, nada,
nem esse estado
-de-
guerra
que fica no meio
-da-
história:
e assim sangram
as cidades, todas ):
Cachoeira, São Paulo,
Salvador,...
Tupinambás dos Santos-Caboclos,
então, há nomes
pra todos
pra tudo
e pra todas as dores
candomblés e letras de sambas
nos terreiros e calçadas, nas ruas...
***
POEMA DO FOGO
O fogo andino
que desceu pelo
Estreito de Bering
encandeceu
a Amazônia
de sangue oriental
As chamas
lançadas
das lâminas,
em fúria,
disparam
flechas
acesas
com
uma luz
que organiza
as horas e
os dias.
Natureza
(essa força
incessante)
dissocia o tempo
– inconstante.
Guerras
queimam a Terra.
Gaia goza
antes do Colapso
e que a hora
finde-a; ( Im )
a possível doma
da dobra do mar,
contorno irascível
dos frios ventos
do norte,
pelas marítimas
correntes
que no Atlântico
arrastaram
tantas diásporas.
§
AFORISMOS
§
Quando a
morte lhes morder
os
calcanhares, hás de longa
sílaba
cantar, à estreita porta.
§
Eu, que
não tenho celular,
Sobrevivo
a surtos telepáticos
E
diálogos com o instantâneo.
Pra mim
que não tenho alma
A verdade
esta morta no cotidiano.
§
– MENTIRA!
Me presentearam
com amor, troquei
por brinquedos.
§
O deserto da rua,
apagou, restaram apenas
postes inacabados.
§
Risquei de índio
o quadro negro, e
o branco sorriu.
§
Compro-te flores,
preferes
sapatos.
§
Coleciono noites
em claro: reuni
parágrafos de estrelas.
§
Quiseram-me
à verdade, confiei
na ilusão.
§
Visitei certa vez
um povoado, de lá,
nunca voltei.
§
Redundância:
Coisa ironicamente
impossível.
§
Vendo-te o futuro:
Propagam os bancos; mal
sabem do capital futurístico.
§
Polvilho no escuro,
Pólen-pensamento
§
Invento um sujeito:
eles recolhem os direitos.
§
Guardo esperanças:
diminuem as distâncias.
§
Ei-los: signos e sons:
lamento da solidão: profunda
sinfonia de batucada.
§
Calhas e Portas: Lótus.
§
Se chora o Brasil
Samba o brasileiro
Vais ser artilheiro
Da sua geração.
§
***
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