Thursday 6 October 2016

ANIMÍTICO



ABERTURA

casas
arrastadas
ao cais – às rochas
das nossas partidas
na paisagem do porto,

          o pajé
               abre 
o vento-a-flor
             nasce.

e o cheiro
dança dentro
da surpresa.



 





***
ANIMÍTICO 

Omito/ o dado, o fato/ e o mato. 

***

DEUS, O MANO

O mano-eu/é um, é uma/transa-transe/do desumano. 

***

O CHÁ DO XAMà

N’asa da xícara:
a cura : – cobre
com pano úmido
e põe no escuro.

 ***
  
RANDOMIAMERÍNDIA

Na terra dos índios
      ainda há gentes
(contra) indígenas.

Onde? Aqui
mesmo: onde
a gente a paz
não vinga.
(só a poesia
pode, amor.)

Nada no país
toma forma
de nação, nada,
nem esse estado
                  -de-
                 guerra
que fica no meio
                  -da-
               história:
e assim sangram
as cidades, todas ):
Cachoeira, São Paulo,
Salvador,...

Tupinambás dos Santos-Caboclos,
então, há nomes
pra todos
pra tudo
e pra todas as dores
candomblés e letras de sambas
nos terreiros e calçadas, nas ruas...

***

POEMA DO FOGO

O fogo andino
que desceu pelo
Estreito de Bering
encandeceu
a Amazônia
de sangue oriental

As chamas
lançadas
das lâminas,
em fúria,
disparam
flechas
acesas
com
uma luz

que organiza
as horas e
os dias.
Natureza
(essa força
incessante)
dissocia o tempo
– inconstante.

Guerras
queimam a Terra.
Gaia goza
antes do Colapso
e que a hora
finde-a; ( Im )

a possível doma
da dobra do mar,
contorno irascível
dos frios ventos
do norte,

pelas marítimas
correntes
que no Atlântico
arrastaram
tantas diásporas.

§

AFORISMOS

§

Quando a morte lhes morder

os calcanhares, hás de longa

sílaba cantar, à estreita porta.


§


Eu, que não tenho celular,

Sobrevivo a surtos telepáticos

E diálogos com o instantâneo.

Pra mim que não tenho alma

A verdade esta morta no cotidiano.


§


– MENTIRA!



Me presentearam

com amor,  troquei

por brinquedos.


§


O deserto da rua,

apagou, restaram apenas

postes inacabados.


§


Risquei de índio

o quadro negro, e

o branco sorriu.


§


Compro-te flores, 
                preferes

               sapatos.


§


Coleciono noites

em claro: reuni

parágrafos de estrelas.


§


Quiseram-me

à verdade, confiei

na ilusão.


§


Visitei certa vez

um povoado, de lá,

nunca voltei.


§


Redundância:

Coisa ironicamente

impossível.


§


Vendo-te o futuro:

Propagam os bancos; mal

sabem do capital futurístico.


§
  
Polvilho no escuro,

Pólen-pensamento


§


Invento um sujeito:

eles recolhem os direitos.


§


Guardo esperanças:

diminuem as distâncias.


§


Ei-los: signos e sons:

lamento da solidão: profunda

sinfonia de batucada.


§


Calhas e Portas: Lótus.


§


Se chora o Brasil

Samba o brasileiro



Vais ser artilheiro

Da sua geração.


§ 

***


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