Difícil é
quando você tá vivendo o melhor momento da sua vida pessoal, profissional,
espiritual aí você se vê no meio de uma grande injustiça.(Que Xangô se faça
presente! Kawo Kabiesilê). Só que teu Orí não te abandona, nem se esquece, tua
memória ancestral funfun te ensina que a mentira é tão poderosa que a sua única
verdade é ser desvelada, aí a primeira coisa que vem a sua cabeça é frase: "A
felicidade do negro é uma felicidade guerreira". Os irmãos e seres de luz,
em vigília, de dia e enquanto durmo, me fortalecem e me dão sustento. É mais
que testemunho, é missão mesmo. A vida é missão de aprender a viver e saber
doer e passar, saber resistir e estar, o resto pouco importa, o que importa é
saber passar e deixar que os ventos levem e tragam, o faço e o que me fazem. Aí
Exu te responde (Laroyê Bará, Exu Odara), aí Yemanjá (Odoyá!), que é Mãe,
enquanto dormes te responde, te amostra, te escreve a carta da cura contra o
engano, para que se corrija o erro, a injustiça. Aí você acorda, pensando em
algo que leu ontem, que “Orí é o primeiro a nascer e o último a morrer”, então
Ogun te diz: "Minha espada espalha o sol da guerra /Rompe mato, varre céus
e terra/A felicidade do negro é uma felicidade guerreira/ Do maracatu, do
maculelê e do moleque bamba", ah...e como se eu não fosse negro, como se
não fosse um moleque bamba, como se eu não estivesse na terra do maracatu,
terra de calungas e eguneguns, soltos pelas ruas e ladeiras sangradas por
nossos mais próximos ancestrais. Nós, filhos e filhas de Dandara e "Zumbi,
comandante guerreiro/Ogunhê, ferreiro-mor capitão/Da capitania da minha
cabeça/Mandai a alforria pro meu coração". A essa altura Gilberto Gil,
mais uma vez me diz que não preciso dizer, nem pensar mais nada, só sentir:
gratidão, amor e paz. Meus guias seguem por mim aqui no Ayê, no Orun ou em
Aruanda (Xetruá Caboclo Boiadeiro, meu pai, a benção,Tupinambá e Sultão das
Matas firmes combatentes e caçadores) guerreando e assim "Minha espada
espalha o sol da guerra/Meu quilombo incandescendo a serra/Tal e qual o leque,
o sapateado do mestre-escola de samba/Tombo-de-ladeira, rabo-de-arraia,
fogo-de-liamba". E por isso tudo e por que sou poeta, irmão fantasma da
palavra, gêmeo do absurdo, semelhante ao átimo genético da criação do ar, do
fôlego, do sopro que corre em ritmo de floresta silvando a noite porque respira
pelo ventre da mãe terra através das raízes das gameleiras, sumaúmas e
outrantas esferas sanguíneas da criação de que somos todos partes infímas e
iguais, formas genéricas da perfeição aparente diluídas em linguagem pura e
tantas vezes vã, é por isso tudo e porque sou poeta que "Em cada estalo,
em todo estopim, no pó do motim/Em cada intervalo da guerra sem fim/Eu canto,
eu canto, eu canto, eu canto, eu canto, eu canto assim:" em refrão, coro,
arranhando a garganta:
A felicidade do negro é uma felicidade guerreira!
A felicidade do negro é uma felicidade guerreira!
A felicidade do negro é uma felicidade guerreira!
A felicidade do negro é uma felicidade guerreira!
A felicidade do negro é uma felicidade guerreira!
Por que se não for assim, não vai, se não for cantando e
sangrando a alma em palavras a vida não vinga, nem há vitória que valha, não há
prazer que se goze calado, só a dor e a humilhação é que se come calado, mas o
amor a vida vivida em sua intensidade é a única música possível, som deslizante
dos dias, trilha sonora dos anos passados e futuros, sangue, sangue, sangue
negro não é a água da banheira não, muito menos aqui no "Brasil, meu
Brasil brasileiro/ Meu grande terreiro, meu berço e nação/Zumbi protetor,
guardião padroeiro/Mandai a alforria pro meu coração".
Axé ôoo,
A bença
pra quem
é de bença.
pra quem
é de bença.
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