Pode parecer irônico, cínico ou até mesmo engraçado se não
fossem ambas, a farsa e a tragédia, numa dança em círculos e elipses
concêntricas que apagam as oscilações e só se voltam para si, ou seja, para a
centralidade do poder, para a agência da dominação. Vis-a-vis o modo operante
de um Estado fascista. Pode parecer crítico, ilustrado ou até mesmo digno, mas
produzir a crise para ter direito a ser injusto é o pior dos crimes. Lesar a
harmonia em relações sociais e contratos intra e inter-étnicos pelo prazer do
desvio ao justificar o excesso e a opressão via hegemonia econômica, política e
ideológica é caso comum. Vis-a-vis o modelo de contrato de um Estado facista.
Fragmentação, contradições, desequilíbrios viram a norma quando se usa um totem
ou uma bandeira diante da qual muitos se curvam, para ter um exército em
exercício nas ruas a fim garantir seja lá o que for que se chame autonomia ou
governabilidade é sem dúvidas um ato arbitrário de (des)controle da hierarquia
social. Vis-a-vis a maneira de atuar de um Estado fascista. Ao se erguer o
cenho, franzir a testa, esbravejar em gestos, altear a voz nas rádios,
televisão, nas redes e mídias sócias e sociais são sentidos sintomas dos sinais
dos tempos em que a crise dos sistemas não significa a crise dos paradigmas ou
dos códigos de programação que organizam os sistemas, seja o de informação ou
da supremacia branca capitaista. Vis-a-vis o jeito dos regimes de um Estado
fascista. A necessidade da fuga, da fusão, do auto-engano, do engodo, da pura e
simples mentira ou a nobre arte da omissão e do não sei ou do me esqueci é ao
que parece e tudo indica o caminho que se percorre ao voltar para a casa de sua
gente ou mesmo entre os entes queridos quando se trata com amigos ou inimigos
neste terreno minado das relações em épocas tão instáveis como esta. Esta na
qual basta-se ter um ponto de vista minimamente oblíquo ao do mais próximo que
já se tem o bastante para olharmos com desconfiança e insegurança que generalizadas
por nossas feridas históricas nos remetem a lugares de memórias inscritos em
nossos corpos negros que consubstanciam o sofrimento total de tudo ao
sentimento que impele a necessidade urgente de emancipação e agência do e sobre
o próprio corpo, casa e coração. A menor brisa que possa correr entre as
arestas de nossos edifícios morais, éticos ou ancestrais como no caso do eco do
grito de liberdade ameaça as estruturas das ordens criadas e impostas como
normas, como verdades que de velhas nos vencem por dentro sem que possamos
querer ao menos acessar ou dar espaço ao novo ou aceitar as condições de
possibilidade de sua emergência. Vis-a-vis a situação vivida pela
"democracia" em dias de totalitarismo arregaçado. A autopromoção, a
necessidade de protagonismo, a inveja, a desconstrução deliberada de grupos e
sujeitos, a desfaçatez da sabotagem, esse clima de hostilidade, a empáfia da
soberba, a arma sempre apontada antes mesmo do ataque, a incomunicabilidade, a
incompreensibilidade do diálogo, a interdição da narrativa, o silenciamento da
narração, a censura contra o narrador(a) marcam a vivaz violência em campo
aberto e a fogo de alta intensidade contra irmãos, irmãs, negros, índios,
mulheres, pobres, trans, queers, velhos, crianças. Vis-a-vis o pagamento recebido
pelas diferenças em regimes de alteridade seletiva, machismo e misoginia
endógenos, preconceitos, discriminações e racismos vários (seja ambiental ou
institucional) quando ainda mais o Estado é mais-que-fascista. A crítica da
crise é começo da superação. A autocrítica é o começo da nossa própria cura.
Vis-a-vis como o Estado fascista combate, condena e extermina o nosso povo,
como quem vê dentro de si (no outro, mais um de nós mesmos) o germe da mudança
e transformação que deve ser destruído por ordem do pensamento conservador que
não pode encontrar lugar para esse outro, em seu arquetípico estilo de vida,
"Estado de Sítio" constante contra si tão bem arquitetado por anos e
anos a fio, elo a elo pelas cadeias dos séculos. Vis-a-vis a fundação
enferrujada e militarizada que mobiliza ranços e rancores, medos e temores em
direção ao horror terrificante, ao terror paralisante. Vis-a-vis a sinfonia
muda da morte, a aguardente em seu último gole, o gol perdido no infinito dos
acréscimos, a última ameaça disfarçada de lei no último discurso do general ou
na canetada canalha deste ou do próximo presidente. Estou cansado, estamos, mas
precisamos continuar a organizar as guerrilhas, os quilombos, as aldeias e
fazer tudo isso sem esquecermos o samba, porque a nossa melhor forma de
protesto é viver nosso amor honesto, sermos pretos e estarmos sempre perto.
Mar.2018,
Olinda, Pe.
Olinda, Pe.
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