Wednesday 21 March 2018

A Serra da Capivara


Desde o fim do ano passado que me pego pensando na Serra da Capivara. Não à toa, decerto. Em conversas com uma interlocutora que acabara de voltar de lá, na época, descobri estranha vontade de conhecer este lugar, talvez nada de incomum haja nessa vontade, ou seria meio óbvio para uma antropólogo visitar o Museu do Homem Americano, ou tentar meditar in loco sobre como haviam ancestrais africanos no interior do Piauí, antes mesmo dos ameríndios (antes mongóis), via Estreito de Bering, chegarem por essa bandas. Desde o achado do crânio de Luzia, no interior de Minas Gerais as dúvidas sobre datações se alargam. Li em algum lugar sobre uma possível caravana marinha em direção a América de um antigo povo africano escapando de alguma adversidade natural no continente, mas, assim como não se tem outras respostas, ficamos com as hipóteses. Mas nesse caso, as melhores. Curioso foi ano passado ter conhecido inclusive uma arqueóloga de lá de Teresina, num seminário aqui na UFPE, em dezembro, sobre o indigenismo e povos indígenas. Uma pena não termos conversado muito sobre o sítio arqueológico da Serra e as questões fantásticas que nos envolvem e a este lugar. Esses dias, diria não por acaso, me dei com um documentário sobre a criação do Parque Nacional e sobre processos de indenização e relocação dos nativos, bem como sobre formas de garantia de trabalho e renda para os moradores locais a partir do turismo já que a agricultura é dificultada pelo solo e pela pouca chuva da região. A patrimonialização, as pesquisas, os investimentos estrangeiros, os interesses locais e nacionais, a voz da Niede Guidon ecoando, tudo reunido parecia apresentar um projeto que não poderia ser fadado ao fracasso de seu alcance e potencial de transformação, seja pela formação de novos arqueólogos (via Univasf) ou pela articulação da cerâmica com a vida cotidiana dos nativos. Mas o que parece ser um projeto de futuro (via os ancestrais) ainda nos deixa incertos quanto a sustentabilidade do Parque e a viabilidade da proposta em desenvolvimento, face as tratativas com o Estado nacional e as limitações das ações da Unesco. Mas, sobre tudo o que vi e ouvi e tenho lido sobre a Serra, para além da minha atual fixação com o verão, acho que o fato de que as andorinhas canadenses veem em bandos passar essa época do ano por aqui pelos trópicos do nordeste, não me faz duvidar que outras espécies ou inclusive antigos grupos humanos já a muito tempo tenham descoberto essa rota, algo como uma memória da vida terrena, algo como uma solução da natureza para tantas adversidades e assim, acredito que se tenha encontrado nesse caminho até Canto do Buriti, São Raimundo Nonato ou São João do Piauí, ainda que com um Coronel José Dias, pelo meio, a forma de esculpir o tempo, em traços, riscos voos. Enfim, por esses dias, ainda h-ouve um poema lá no animítico: "poema do homem americano”.

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