Desde o fim do
ano passado que me pego pensando na Serra da Capivara. Não à toa, decerto. Em
conversas com uma interlocutora que acabara de voltar de lá, na época, descobri
estranha vontade de conhecer este lugar, talvez nada de incomum haja nessa
vontade, ou seria meio óbvio para uma antropólogo visitar o Museu do Homem
Americano, ou tentar meditar in loco sobre como haviam ancestrais africanos no
interior do Piauí, antes mesmo dos ameríndios (antes mongóis), via Estreito de
Bering, chegarem por essa bandas. Desde o achado do crânio de Luzia, no
interior de Minas Gerais as dúvidas sobre datações se alargam. Li em algum
lugar sobre uma possível caravana marinha em direção a América de um antigo
povo africano escapando de alguma adversidade natural no continente, mas, assim
como não se tem outras respostas, ficamos com as hipóteses. Mas nesse caso, as
melhores. Curioso foi ano passado ter conhecido inclusive uma arqueóloga de lá
de Teresina, num seminário aqui na UFPE, em dezembro, sobre o indigenismo e
povos indígenas. Uma pena não termos conversado muito sobre o sítio
arqueológico da Serra e as questões fantásticas que nos envolvem e a este
lugar. Esses dias, diria não por acaso, me dei com um documentário sobre a
criação do Parque Nacional e sobre processos de indenização e relocação dos
nativos, bem como sobre formas de garantia de trabalho e renda para os
moradores locais a partir do turismo já que a agricultura é dificultada pelo
solo e pela pouca chuva da região. A patrimonialização, as pesquisas, os investimentos
estrangeiros, os interesses locais e nacionais, a voz da Niede Guidon ecoando,
tudo reunido parecia apresentar um projeto que não poderia ser fadado ao
fracasso de seu alcance e potencial de transformação, seja pela formação de
novos arqueólogos (via Univasf) ou pela articulação da cerâmica com a vida
cotidiana dos nativos. Mas o que parece ser um projeto de futuro (via os
ancestrais) ainda nos deixa incertos quanto a sustentabilidade do Parque e a
viabilidade da proposta em desenvolvimento, face as tratativas com o Estado
nacional e as limitações das ações da Unesco. Mas, sobre tudo o que vi e ouvi e
tenho lido sobre a Serra, para além da minha atual fixação com o verão, acho
que o fato de que as andorinhas canadenses veem em bandos passar essa época do
ano por aqui pelos trópicos do nordeste, não me faz duvidar que outras espécies
ou inclusive antigos grupos humanos já a muito tempo tenham descoberto essa
rota, algo como uma memória da vida terrena, algo como uma solução da natureza
para tantas adversidades e assim, acredito que se tenha encontrado nesse
caminho até Canto do Buriti, São Raimundo Nonato ou São João do Piauí, ainda
que com um Coronel José Dias, pelo meio, a forma de esculpir o tempo, em
traços, riscos voos. Enfim, por esses dias, ainda h-ouve um poema lá no
animítico: "poema do homem americano”.
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