A essa altura
lembro-me do texto de agradecimento de Zurita pelo Prêmio Iberoamericano de
Poesia Pablo Neruda que circulou aqui na rede, meio como um viral para poetas e
literatos que ainda estão nas redes sociais. Por esses dias, o Chile anda por
perto, perto demais, ronda-me em espectros. Ontem Parra, centenário; Bolaño,
realista-visceral.
O Brasil
temerista, tão nazi-fascista quanto outras ditaduras, nos evoca nossos próprios
fantasmas. Os poetas (se perguntam?) o que podem contra tal e tamanho estado de
coisas."Oarmarinho", livro novo de Laura Castro, nos ensina palavras
como "fiquesão". Fique se puder, se souber, se estiver ainda em sua
própria estação. Eu, assisto sombras passearem contra luz da luminária
lamparinando pensamentos.
Recordo, agora,
não por acaso, de ter conhecido e convivido com a Barbara Martinoya Vicuña,
irmã de Cecília Vicuña, artistas chilenas ligadas às lutas contra a ditadura,em
seu país, assim como Zurita, (via Santiago e o deserto do Atacama.) Lembro-me
de Ramona, sua personagem/modelo preferida representada em tantas telas que a
mesma fazia por toda a casa em óleo, guache, carvão. Acabei de descobrir que
preciso escrever algumas coisas que ando guardando.
Estão se esgotando
as horas da vida por aí, andam nos esganando em silêncios. Camisas pretas nas
áreas, de serviço a cavalaria desfila e desafia o cotidiano das ruas e botas
pretas perfumadas de sangue esmagam as flores nos nossos jardins, lentamente.
Não me digam, não me deixem dizer nada que seja um som soturno ou uma resposta
banal à qualquer um dos absurdos incomunicáveis desses dias.
Como vespas cegas
contra as luzes que faíscam sinais silenciosos e cigarras que zoam e urram as
seis e meia, toda noite há uma série de fugas noturnas pelas teclas, pelas
telas, pelos cômodos das casas, inúteis escapes, forças futuras renderão,
incontornáveis fraturas, incontáveis torturas, carnaval e suicídios, romances e
antipoemas são suplícios para um verão selvagem onde "As mentiras são tão
fortes quanto os assassinatos. Um país que mente sobre a ditadura é um país não
solidário, egoísta, arrivista, individualista".
Saturninos,
meditamos.
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