Tuesday 13 December 2016

A NARRATIVA ENTRE O DADO E O FATO

Entre tantos sofrimentos humanos, como por exemplo tanto a escravidão via Atlântico Negro quanto à 2ª Guerra Mundial, constata-se a perda da capacidade de intercambiar experiências como se refere W. Benjamin, no célebre texto “O Narrador”. A dificuldade em comunicar a experiência através de narrativas, ou seja, perspectivas, está diretamente ligada a perda da memória e com os hiatos, como o racismo ou o antissemitismo, no contexto das formas de sociabilidade moderna e contemporânea.
Esta “nova barbárie” condiz ao “esvaziamento da experiência” como no sentido posto por Agambem, que indica a noção de “potência do pensamento” como recurso à recuperação reflexiva do vivido. Baudrillard, um dos teóricos do pós-modernismo, diz que a relação de influência entre consumo e a solidariedade social conduz a adesão de simulacros de códigos de conduta e modelos de comportamento, como o “estilo de vida” construído pela mídia e pela reprodução. Já o linguista, N. Chomsky, ao relacionar o mass media com a manipulação e consentimento da opinião pública e do público, questiona o lugar dos intelectuais, com uma indagação: classe que compreende e interpreta o real?

A narrativa literária consubstancia as obras do imaginário com uma experiência temporal de redefinição do cotidiano. A arte conserva a negação. Contra a colonização do imaginário, a arte interfere na realidade através da transcendência e imanência, contidas na ambiguidade da narrativa da obra de arte. A narratividade permite a mediação das narrativas ao elaborar uma experiência e sua constituição de sentido. Obras como O Homem do Chapéu Vermelho, de Hervé Guibert ou Rum – Diário de um Jornalista Bêbado, de Hunter S. Thompson são formas de recompor os sentidos dos sujeitos ancorados na linguagem, para alcançar uma reconstrução de si e do mundo. Estas obras do pensamento refletem também a capacidade de projetar novos sentidos possíveis na realidade.
Enquanto essas manifestações literárias são experiências narrativas elaboradas pelo romance, a filosofia, com a fenomenologia, mais especificamente, Sartre e Ricouer desdobram a modernidade da linguagem filosófica contida em Husserl e Heidegger, considerando a configuração de sujeitos atrelados a sociedade. A ética no cotidiano das relações sociais orienta a conduta dos sujeitos históricos.

O pensamento fenomenológico incide uma crítica na epistemologia moderna ao questionar a clássica separação entre sujeito e objeto. O que leva a conclusão de uma crise dos sentidos da modernidade e um divórcio anunciado entre a ciência e os sofrimentos humanos.
O que nos permite também questionar, não será também aqui o “intelectual”, posto num amplo sentido – pajés, griôs, yalorixás, etc... – os sujeitos postos entre o dado e fato, responsáveis por narrar a experiência de existência dos povos?

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