Acabo de chegar de uma experiência
(extra)-ordinária. Acabei de fazer um trabalho maravilhoso. Com uma
sensação de paz indescritível. Mas com uma vontade imensa de
compartilhar e extravasar toda essa alegria tão emocionante. Acabo de
acompanhar a chegada/trazida do par (cabocla/caboclo) de Cachoeira, onde
estavam, na Praça da Aclamação, para onde foram levados da Rua da Feira
para os "festejos" de 25 de junho. Hoje, dia 27, acompanhei desde a
outra mar
gem a vinda deles até aqui, em
São Félix, onde na Praça 2 de Julho, praticamente na esquina da rua onde
nasci e vivi por quase 20 anos, muitos aguardavam a chegada do cortejo.
Políticos, hinos, militares, populares, toda sorte de figuras públicas e
anônimas enchiam as ruas, as filarmônicas União Sanfelista e Minerva
Cachoeirana foram responsáveis pela trilha sonora. Estou cheio de vida,
sabe-se lá em especial pelo quê, mas sinto um profundo pundonor.Uma
sensação nova, a de estar em casa e ser total, sem circunscrição de
minhas ações, sem pudor de meus atos, captei o áudio das rodas dos
carros dos caboclos rangendo no chão de pedras e sobre a ponte
metalizada, os áudios dos estouros das bombas e dos gritos de "Viva
Caboclo!". Extremamente bem acompanhados por membros do povo de santo
das duas cidades, aqueles encantados triunfaram sobre o trânsito, sobre o
caos das cidades, sobre indiferença tão comum, sobre o possível
romantismo ideológico ou um pseudo-folclorismo tão caracteristicamente
atribuídos a certas manifestações da cultura e sociedade baiana. Nem
civismo nem representação, nem solenidade nem burocracia de estado,
apenas a terra reclamando sua primazia ancestral, apenas a herança que
nunca se perdeu, os índios, ah...que gente impressionante, que fibra
moral e existencial tão tenaz, que após séculos e séculos de extermínio
deliberadamente organizado pelo Estado brasileiro, eles - nós - os
índios ainda fazem/fazemos esse mesmo estado de homens públicos cruzarem
suas cidades para nos reverenciar: realmente, nos devem e muito, para
em plena segunda feira, pós São João, estarem empalitozados no clima mui
ameno do recôncavo nesta época, em busca de alguma atenção pública e
mais alguns votos. Mas no entanto, sua frágil peripécia não se compara
aos presentes que lá mesmo em-e-ao ovacionar aqueles vultos da história e
da cultura nativa, atualizam o emblema e revestem o presente de uma
fina camada de sereno, que ilumina e re-brilha o estandarte eternizado
de um passado que, seguramente, insiste em não abandonar a sucessão de
devires históricos e cosmológicos, para cada um e suas famílias, que
conhecem a natureza da guerra tornada mito e do mito da guerra tornado
memória. sempre atual e acesa em chamas, senão no cotidiano, mas sim no
inconsciente-índio de nossos contemporâneos de quem éramos e de quem
devemos, por força e direito a uma razão ontológica, tornarmos a ser:
índios.
Auerê / xetu marrumba xetu
Gratidão ao cosmo.
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