Narrar os
últimos dias tem sido extremamente necessário. seja em poesia ou nas
circunstâncias que constroem os momentos. de qualquer maneira, os
encontros e as trocas tem sido por demais valiosas e raras. portanto,
nada melhor que elaborar os acontecimentos e torná-los factíveis
dispositivos da memória. são tempos de torpeza e envilecimento.
envelhecemos as custas de nossas próprias ruínas. enquanto herdamos
passagens secreta
s por labirintos de
horas, templos do acontecido. as presenças com seus vetores de
intensidade e desejo mobilizam forças anímicas e ancestrais. o xamã
caminha junto a alma dos pássaros e das águas, abre caminho na mata,
descalço, vestido de folhas e redemoinhos, passa por dentro das pedras e
continua caminhando... o canto ecoa em desertas paragens... tecnologia
de acesso do presente. a vida como uma experiência de uma virtualidade
potencial considerada pela forma da razão e motivo que direciona e
intenciona a escolha implicada na necessidade de enfrentarmos a
incerteza. só não deixa dúvida a beleza, essa queda da vaidade, força
natural de espontaneidade aparente e ordem oculta. o tempo essa magia
obscura de complexidade diferente, se faz de um delírio no dilúvio das
sensações e transportes históricos específicos = atualização temporal de
uma vontade potencial em fluxo constante de oscilações equipolentes.
Ainda mais surreal o real quando absurdos se tornam fatos. Que de tanto
pensar a memória se gasta em resgatar o rosto, gravar o contorno dos
passos e dos percalços, a língua que fala e gesticula internamente algo
que se diz palavra e vem de alhures em nós. Em nós osculam-se o cálice e
o pai, o parto e a refazenda, a aldeia que existe no mar e a mata que
nos abriga e acolhe da imensidão maior infinita do cosmo. Nos
inflamamos pela chama acessa da vida que vem de um lugar mais distante e
anterior. Sente-se próximo mais uma vez o despertar, e quando chamar a
Serra, não se lamente, saiba encontrar os rastros pros atalhos de si
mesmo, siga aquela que chama pelo totem e para distante do tabu. ouçamos
Gaia e os encantados enquanto ainda acreditamos que nos ouçam.
Agradeço realmente a todos que fizeram junto os últimos dias, em especial Daniela, uma grata surpresa conhecê-la, Jurema foi muito bom revê-la, D. Maria Tupinambá, uma felicidade extrema poder encontrá-la no Recôncavo, a
Suzana pela lucidez, a Paulo Pataxó HãHãHãi pela comunicação estabelecida com os encantados, a Uila pela poesia "que de tão boa, voa", a Elódia pela presença de espírito... deixo aqui uma memória sonora e plástica que possa se dilatar no tempo aberto por/em/entre nós.
Ouça:
https://soundcloud.com/camilloc-saralvarenga/canto-xamanico-pataxo-hahahai
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