Tuesday 13 December 2016

"então o nosso povo já andou aqui nessa terra..."

Narrar os últimos dias tem sido extremamente necessário. seja em poesia ou nas circunstâncias que constroem os momentos. de qualquer maneira, os encontros e as trocas tem sido por demais valiosas e raras. portanto, nada melhor que elaborar os acontecimentos e torná-los factíveis dispositivos da memória. são tempos de torpeza e envilecimento. envelhecemos as custas de nossas próprias ruínas. enquanto herdamos passagens secretas por labirintos de horas, templos do acontecido. as presenças com seus vetores de intensidade e desejo mobilizam forças anímicas e ancestrais. o xamã caminha junto a alma dos pássaros e das águas, abre caminho na mata, descalço, vestido de folhas e redemoinhos, passa por dentro das pedras e continua caminhando... o canto ecoa em desertas paragens... tecnologia de acesso do presente. a vida como uma experiência de uma virtualidade potencial considerada pela forma da razão e motivo que direciona e intenciona a escolha implicada na necessidade de enfrentarmos a incerteza. só não deixa dúvida a beleza, essa queda da vaidade, força natural de espontaneidade aparente e ordem oculta. o tempo essa magia obscura de complexidade diferente, se faz de um delírio no dilúvio das sensações e transportes históricos específicos = atualização temporal de uma vontade potencial em fluxo constante de oscilações equipolentes. Ainda mais surreal o real quando absurdos se tornam fatos. Que de tanto pensar a memória se gasta em resgatar o rosto, gravar o contorno dos passos e dos percalços, a língua que fala e gesticula internamente algo que se diz palavra e vem de alhures em nós. Em nós osculam-se o cálice e o pai, o parto e a refazenda, a aldeia que existe no mar e a mata que nos abriga e acolhe da imensidão maior infinita do cosmo. Nos inflamamos pela chama acessa da vida que vem de um lugar mais distante e anterior. Sente-se próximo mais uma vez o despertar, e quando chamar a Serra, não se lamente, saiba encontrar os rastros pros atalhos de si mesmo, siga aquela que chama pelo totem e para distante do tabu. ouçamos Gaia e os encantados enquanto ainda acreditamos que nos ouçam.

Agradeço realmente a todos que fizeram junto os últimos dias, em especial Daniela, uma grata surpresa conhecê-la, Jurema foi muito bom revê-la, D. Maria Tupinambá, uma felicidade extrema poder encontrá-la no Recôncavo, a Suzana pela lucidez, a Paulo Pataxó HãHãHãi pela comunicação estabelecida com os encantados, a Uila pela poesia "que de tão boa, voa", a Elódia pela presença de espírito... deixo aqui uma memória sonora e plástica que possa se dilatar no tempo aberto por/em/entre nós.

Ouça: https://soundcloud.com/camilloc-saralvarenga/canto-xamanico-pataxo-hahahai

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